terça-feira, 22 de setembro de 2015

118 ANOS HOJE DA MORTE DE ANTONIO CONSELHEIRO EM CANUDOS

Profº Manoel Neto

Há 118 anos falecia em pleno curso da Guerra de Canudos o beato Antônio Vicente Mendes Maciel - popularmente conhecido como Antônio Conselheiro, Bom Jesus Conselheiro e Antônio dos Mares - entre outras alcunhas que o tornavam íntimo no coração e na consciência do seu povo.

Nascido na Vila de Quixeramobim, na então Província do Ceará, no ano de 1830, filho de um pequeno comerciante e uma simples filha do povo conhecida como Maria Chana, o pequeno Antônio viveu uma infância comum dedicada aos estudos e aos divertimentos comuns a sua idade.


A morte prematura do pai transformou-o muito jovem em arrimo de família com encargo pesado de cuidar das irmãs menores e tocar o pequeno comércio que lhe deixara o genitor, Vicente Mendes Maciel. Por essa época casou-se com Brasilina Laurentina de Lima, casamento do qual lhe vieram filhas e a separação que lhe desarrumou profundamente a vida.


Os negócios claudicantes e a existência pessoal tumultuada não lhe arrefeceram o ânimo. Muda constantemente de cidade e profissão tentando prover seu sustento. Sem contato com a ex-mulher e as filhas, toma para sua companhia uma "santeira" cujo nome ilustra a profissão, posto que era conhecida como Joana Imaginária, ou seja, artesã de imagens. Com ela tem um filho batizado Joaquim Aprígio.


Formado na rigidez da fé católica, tal e qual como era professada à época, notadamente nos sertões esquecidos do Nordeste, onde a fala Divina chegava através de missionários franciscanos, capuchinhos e carmelitas, cujas palavras e sermões vinham sempre carregadas de previsões apocalípticas e castigos celestiais para os incréus, o jovem assíduo leitor da Bíblia e atento ouvinte dos missionários foi moldando o perfil do penitente que se formava gradualmente em seu espírito. Logo surge nos sertões cearenses aquele que muito anos mais tarde Euclides da Cunha denominou "anacoreta sombrio". Percorre caminhos, atalhos, veredas. Arrebanha acompanhantes e seguindo os ensinamentos do Padre mestre Ibiapina que sempre pregara a ação da fé para edificação de obras meritórias em favor dos necessitados, constrói aguadas, pequenos açudes, repara templos arruinados e ergue outros, fazendo da sua passagem por numerosas localidades um exemplo de trabalho e moralidade absoluta.


Em 1876 é preso em Itapicuru na Bahia, acusado de promover tumulto e agitar o povo. Conduzido a Salvador e, posteriormente a Fortaleza, é finalmente libertado tendo em conta da falsidade das acusações. Já era nesse tempo uma liderança reconhecida e respeitada, condição que se tornaria irreversível nas décadas seguintes. Assiste a queda da Monarquia e instauração da República, saúda a libertação dos escravos, registros encontráveis em suas Prédicas, manuscritos publicados anos depois pelo escritor Ataliba Nogueira no livro "Antônio Conselheiro e Canudos". Em 1893 fixa-se definitivamente em Canudos para onde se deslocara em maio do mesmo ano, após violento conflito no vilarejo de Maceté. 


Em 1896 os grandes latifundiários, a frente o Barão de Jeremoabo, a Igreja Católica e o estado aparelhado pelas classes dominantes se juntam para destruir o Arraial a beira do Rio Vaza Barris que crescera em população e importância, atraindo milhares de pessoas que fugiam dos latifúndios, da opressão exercida pelos coronéis e autoridades manietadas e submetidas ao Poder Oligárquico, em busca de terra para plantar, liberdade e livre exercício das suas crenças. Lá se reúnem negros, índios, homens, mulheres, velhos, crianças, camponeses, combatentes, vaqueiros, lavradores, enfim, gente do povo que tinha em comum a indiferença histórica dos governos regionais e do Poder Central.


Quatro Expedições militares foram necessárias para a destruição completa da cidade, que tombou sob forte artilharia, a língua do fogo e as cargas de baionetas e balas de fuzis e metralhadoras, no final dramático de 05 de outubro de 1897. Degola de prisioneiros, evisceramento de pessoas, rapto de crianças e jovens adolescentes entregues como prêmios a oficiais e soldados, mancharam de sangue e ignomínia o fardamento militar e a honra do Exército Brasileiro para sempre enodoada por esse crime imprescritível.
Morto antes do final dos combates e enterrado no Santuário existente no mesmo espaço da igreja Velha, vítima de ferimento produzido por estilhaços de granadas e outras complicações que o debilitaram, Antônio Conselheiro expirou assistido pelo respeito e admiração dos seus, entrando para a história como expressiva liderança das lutas populares do Brasil.

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