Por Carlos carneiro
Antônio Vicente Mendes Maciel é uma das maiores personalidades estudadas, pesquisadas e debatidas nas Universidades brasileiras e internacionais, em escolas públicas e particulares é uma figura que não pertence tão somente ao Ceará, a Bahia, ao Brasil ele é universal não pertence a ninguém e ao mesmo tempo é de todos, parece paradoxo, mas é real.
Em 1871 após passar por várias cidades do estado do Ceará, chega aos estados de Pernambuco e Sergipe, os estudos mostram que só a partir de 1876 Antônio Vicente Mendes Maciel pisou em solo baiano já com alguns seguidores instalando-se em Itapicuru que faz fronteira com o estado de Sergipe. Ali os noticiários dão conta da passagem do beato pelo povoado de Rainha dos Anjos, onde foi preso acusado de ter matado sua mãe e esposa, levado de volta ao Ceará. Inocência provada retorna à Bahia em 1880 onde constrói uma igreja e um cruzeiro, concluídos em 1892 no povoado de Bom Jesus onde hoje é a atual Crisópolis e assim o peregrino percorre diversos municípios: Aporá, Entre Rios, Chorrochó, Biritinga, Olindina, Ribeira do Amparo, Esplanada quando em 1893 passa em Maceté onde aconteceu um confronto de conselheristas e a força armada do exército baiano (hoje, acontece anualmente a celebração do Fogo do Macete ou Fogo do Viana) neste mesmo ano, Antônio Conselheiro chega à Canudos com seus séquitos.
Este texto não pretende dar conta da exatidão do percurso por onde Conselheiro passou, mas dizer da curiosidade que causa essa trajetória para inúmeros pesquisadores, historiadores e estudiosos sobre a temática “Canudos”, destes que buscam entender o porquê desta caminhada ou simplesmente refazer parte do percurso por onde passou e viveu o beato peregrino. Mais de um século após, o fim da guerra, um grupo de professores e pesquisadores da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) identificou e registrou as possíveis trilhas e estradas por onde os seguidores de Antônio Conselheiro e as tropas do exército circularam no fim do século XIX, objetivando criar um roteiro turístico a partir desses itinerários.
Foi feito um levantamento através de audiovisuais e fotografias, percorrendo sítios, fazendas e diversas locais que foram palco de embates entre soldados do exército e conselheiristas. “Fizemos um reestudo crítico da bibliografia sobre Canudos, dos relatos dos comandantes do conflito e mapas antigos”. Conta o professor Roberto Dantas. O resultado deste estudo encontra-se registrado em audiovisual e livro na Universidade do Estado da Bahia (Uneb) campus XXll-Euclides da Cunha. Há ainda com sede em Euclides da Cunha, um projeto anual o “Congresso Os Sertões” que dá conta de visitar algumas cidades que fizeram parte do circuito da Guerra de Canudos: Maceté (Quijingue),Canudos, Monte Santo, Euclides da Cunha e Uauá com estudantes, historiadores, pesquisadores e artistas, que discutem in loco os assuntos referentes a trajetória do Conselheiro, as causas da Guerra, a aglomeração de nordestinos em Canudos e muito mais. Não são poucos os que se debruçam sobre a vida e trajetória do Conselheiro, recentemente recebemos um conterrâneo do beato que esteve em nossa região (Euclides da Cunha, Canudos, Monte Santo, Maceté, Quijingue, Bendegó e Uauá) - Neto Camorim, especialista em História e Sociologia pela (URCA) Universidade Regional do Cariri, Historiador é Professor do Liceu de Quixeramobim rede pública e particular é ainda membro da Ong. Iphanaq, do Ponto de Cultura Patrimônio Vivo e do Sistema Maior de Comunicação (rede de rádio) objetivando conhecer parte do percurso (re) vendo e ouvindo pessoas com a tentativa de colher informações para seu possível projeto de mestrado.
Estando em Euclides da Cunha o pesquisador, Neto Camorim visitou a Praça da Bandeira a casa onde supostamente Moreira Cesar pernoitou, a Matriz, o Monumento dedicado ao autor de Os Sertões, a Praça Duque de Caxias, a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e outros locais.
Em Maceté o professor esteve na praça dedicada ao seu conterrâneo (Antônio Conselheiro) reuniu-se com o coletivo de jovens, indo ao local onde ocorreu o “Fogo de Maceté”, conversou com personalidades no local, entrevistou o senhor Manoel Cavalcante (seu Nel) reforçando a participação dos macetenses no “Conselheiro vivo” (evento anual do calendário de Quixeramobim que celebra alusivamente o nascimento do Conselheiro) e da “Romaria de Canudos” outro evento anual que celebra os mártires de Canudos, com essa participação segundo o professor Neto Camorim estreitaria distâncias e ideias.
Visitando Monte Santo, considerada o Altar do Sertão, o pesquisador encanta-se com a Serra do Piquaraça faz o percurso que milhares de romeiros e fieis fazem ao menos uma vez a cada ano, a Serra tem aproximadamente 3 km com altitude de mais de 500 metros, 14 capelas pequenas que correspondem aos momentos da paixão e morte de Jesus Cristo, servindo para os fieis ascenderem velas e fazerem orações, a romaria teve inicio em 1775 com o Capuchinho Frei Apolônio de Todd. Ainda em Monte Santo o pesquisador esteve na Praça central da cidade onde há exposta uma peça da “matadeira” canhão que ajudou a dizimar Canudos, visitou velhos amigos conquistou novos, comprou e ganhou artesanatos dos simpáticos artistas montesanteses.
Em Quijingue o especialista reuniu-se com alguns secretários municipais e discutindo pontos de sua pesquisa que se referem ao percurso percorrido pelo Conselheiro, esteve conversando com professores de sua área e reforçava ainda mais o envolvimento dos quinjiguenses em março lá no Ceará dentro da programação do “Conselheiro Vivo” e em outubro na Romaria de Canudos.
Canudos, assim como Bendegó já são quase segunda terra do historiador ainda assim, pude conhecer a toca das Araras local visitado por inúmeros ambientalistas e turistas, esteve reunido com a Cia Teatral de Canudos, poeta Zé Américo e alguns organizadores da Romaria.
Finalmente visitou Uauá estando na Igreja Matriz São João Batista, no espaço cultural do múltiplo artista Gildemar Sena o Toque da Zabunba.
- “O sertão é o mundo”!
Frequentemente ouvia o professor proferir emocionado esta frase que me remetia a outra “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.” (Euclides da Cunha).
O que concluímos com isso é que o “Sertão” é fonte de inspiração para a arte, instituições educacionais e religiosas, estudantes, pesquisas cientificas e ainda povoa a imaginação do povo que reside em todo o mundo.
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